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Ediçoes 70, Lisboa, 1987. In-º de 113-(1) págs. Brochado. Exemplar irrepreensível, em excelente estado.
Ostenta uma expressiva dedicatória autógrafa a um destacado e antigo livreiro portuense.
2ª edição.
Originalmente publicado pela primeira vez em 1979, este romance de Luandino Vieira foi " ... redigido enquanto o escritor estava preso no Tarrafal (Cabo Verde), em 1968.
A obra centra-se na figura de João Vêncio, considerado por muitos anti-herói. Este torna-se um marginal em consequência de traumas de infância, rígida disciplina na escola dos brancos, miséria e violência nos musseques, lugar, por excelência, de exclusão social. A história desenvolve-se a partir de uma longa confissão de João Vêncio que se encontra na cadeia, acusado de homicídio e de perversões sexuais. A personagem revela uma personalidade multifacetada, tendo vários nomes: Juvêncio Plínio do Amaral, João Vêncio, João Capitão, Francisco do Espírito Santo e ainda Aliás. Como forma de demonstrar que a sua condenação se devia a julgamentos fundados em aparências e mentiras, João Vêncio constrói a sua auto-defesa, revelando, a um "muadiê", as suas aventuras amorosas com Florinda, Maristrela (ou Maria Stella) e com a menina Tila. A personagem utiliza uma linguagem marcada quer por neologismos e evocações literárias, quer por palavras obscenas, citações estropiadas e quibundo. Estes diferentes níveis de língua salientam a tensão entre a voz da autoridade, presente pelas marcas da língua oficial, e a voz não-autorizada, patente por uma linguagem proibida. ..." (in Dicionário da Porto Editora)
Escreve-nos o autor na contracapa do livro: " ... Teatro, muadié? É o paraíso depois do juiz final, dizia o meu pai de tudo quanto era bonito e difícil para se arranjar.
Esclavagidão? Eu é que sou o escravo dos meus amores — a estrela de três pontas com seu centro dela, a Florinha que não era minha.
A Maristêla e o Mimi, meu só amigo; a menina Tila, asila, doutora, o seu perfume torrado em baixo do céu de veludo, no quente das pernas. Até já estudei quimbandismo de ervagens para lhe encontrar: nada! Eu ainda a procuro, eu hei-de-lhe dar encontro no paraiso infernal, preciso seja. Eu não posso morrer sem sentir outra vez seu torrume adúltero, seu pilão de mão surrando o meu amor deslegal ... "