Edições Limiar, Porto, 1975. In-8º de 80-(9) págs. Br. Valorizado por uma expressiva dedicatória do autor.
Esta obra inclui um ciclo de poemas escritos de Sertembro de 1971 a Setembro 1972 e este poema, enviado para um jornal de província, que foi proibido pela censura.
ESTA CIDADE DESPOVOA-SE
Porque a recusas, esta cidade despovoa-se, o granito
torna-se subitamente um resina pegajosa e hostil.
As gaivotas fogem para o mar com gritos roucos, um
arrepio atravessa as ruas como sinal de inverno.
Encontro as portas fechadas ao longo das paredes; um
curto circuito acaba de apagar o sol, a lua vazia ergue
uma maré que escava furiosamente as paraias.
O espaço minga, as folhas secas tombam com um riso
grato: sabem que foram nas árvores a última primavera.
Um coração está pousado no solo e eu tropeço na sua
Derradeira pulsação. Já o vi algures, creio, antes do medo.